Padre Roberto Landel de Moura

 

 

Roberto Landell de Moura
Nascimento 21 de janeiro de 1861
Porto Alegre
Morte 30 de junho de 1928 (67 anos)
Porto Alegre
Nacionalidade brasileiro
Ocupação

Roberto Landell de Moura (Porto Alegre, 21 de janeiro de 1861 — Porto Alegre, 30 de junho de 1928) foi um padre católico e inventor brasileiro.

É considerado um dos vários "pais" do rádio, no caso o pai brasileiro do Rádio. Foi pioneiro na transmissão da voz humana sem fio (radioemissão e telefonia por radio) antes mesmo que outros inventores, como o canadense Reginald Fessenden (dezembro de 1900). Marconi se notabilizou por transmitir sinais de telegrafia por rádio; e só transmitiu a voz humana em 1914.

Pelo seu pioneirismo, o Padre Landell é o patrono dos radioamadores do Brasil. A Fundação Educacional Padre Landell de Moura foi assim batizada em sua homenagem, assim como o CPqD (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento) criado pela Telebrás em 1976, foi batizado de "Roberto Landell de Moura".

Índice

  • 1 O Padre Landell
  • 2 Transmissão da voz
  • 3 Incompreensão e descaso do Brasil
  • 4 Patente brasileira e estadunidense
  • 5 Demonstração dos inventos em 1984
  • 6 Bioeletrografia
  • 7 Documentos originais
  • 8 Bibliografia
    • 8.1 Movimento Landel de Moura (MLM)
    • 8.2 Artigos
  • 9 Referências
  • 10 Ligações externas
 
Replica funcional do Transmissor de Ondas, construida por Marco Aurelio Cardoso Moura em Maio de 2004.

O padre Landell de Moura nasceu no centro da cidade de Porto Alegre (RS), em 1861. Realizou os seus primeiros estudos em Porto Alegre e São Leopoldo, antes de seguir para a Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Em companhia do irmão Guilherme, seguiu para Roma, matriculando-se a 22 de março de 1878 no Colégio Pio Americano e na Universidade Gregoriana, onde estudou física e química. Completou sua formação eclesiástica em Roma, formando-se em Teologia, e foi ordenado sacerdote em 1886.

Quando voltou ao Brasil, substituiu algumas vezes o coadjutor do capelão do Paço Imperial, no Rio de Janeiro, e manteve longos diálogos científicos com D. Pedro II. Depois disso, serviu em uma série de cidades dos Estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo: Porto Alegre, Uruguaiana, Santos, Campinas, São Paulo.

Em Roma, iniciou os estudos de física e eletricidade. No Brasil, como autodidata continuou seus estudos, e realizou as suas primeiras experiências públicas na cidade de São Paulo, no final do século XIX.

O Exército Brasileiro em homenagem ao insigne cientista gaúcho, concedeu em 2005 a denominação histórica de "Centro de Telemática Landell de Moura" ao 1° Centro de Telemática de Área, organização militar de telecomunicações situada na cidade de Porto Alegre.

transmissão da voz

Notícia no Jornal do Commercio de 10 de junho de 1900.   Notícia no Jornal do Commercio de 10 de junho de 1900.
Notícia no Jornal do Commercio de 10 de junho de 1900.
 
Capela de Santa Cruz.

Foi pioneiro na transmissão da voz, utilizando equipamentos de rádio de sua construção patenteados no Brasil em 1901, e, posteriormente, nos Estados Unidos em 1904. Landell transmitiu a voz humana por meio de dois veículos; o primeiro, um transmissor de ondas que utilizava um microfone eletromecânico de sua invenção que recolhia as ondas sonoras através de uma câmara de ressonância onde um diafragma metálico abria e fechava o circuito do primário de uma bobina de Ruhmkorff, e induzia no secundário dessa bobina uma alta tensão que era irradiada ou através de uma antena ou de duas esferas centelhadoras. A detecção era feita por dispositivos que foram sendo melhorados ao longo do tempo.

O segundo meio utilizado pelo cientista era através do aparelho de telefone sem fio, que utilizava a luz como uma onda portadora da informação de áudio. Neste aparelho, as variações das pressões acústicas da voz do locutor eram transformadas em variações de intensidade de luz, de acordo com a onda de voz, que eram captadas em seu destino por uma superfície parabólica espelhada em cujo foco havia um dispositivo cuja resistência ohmica variava segundo as variações da intensidade de luz. No circuito de detecção havia apenas o dispositivo fotossensível, uma chave, um par de fones de ouvido e uma bateria. Por utilizar a luz como meio de transporte de informação, Landell é considerado um dos precursores das fibras ópticas.

O Padre Landell realizou experiências a partir de 1892 e 1893, em Campinas e em São Paulo. O jornal O Estado de S.Paulo noticiou que, em 1899, ele transmitiu a voz humana a partir do Colégio das Irmãs de São José, hoje Colégio Santana, no alto do bairro de Santana, zona norte da capital paulista. Também efetuou demonstrações públicas de seu invento no dia 3 de junho de 1900 sendo noticiada pelo Jornal do Commercio de 10 de junho de 1900:

"No domingo passado, no alto de Santana, na cidade de São Paulo, o padre Landell de Moura fez uma experiência particular com vários aparelhos de sua invenção. No intuito de demonstrar algumas leis por ele descobertas no estudo da propagação do som, da luz e da eletricidade através do espaço, as quais foram coroadas de brilhante êxito. Assistiram a esta prova, entre outras pessoas, Percy Charles Parmenter Lupton, representante do governo britânico, e sua família".

Em 1903, Arthur Dias, em seu livro "Brasil Actual", faz referência a Landell de Moura, descrevendo, entre outras coisas, o seguinte:

"logo que chegou a S. Paulo, em 1893, começou a fazer experiências preliminares, no intuito de conseguir o seu intento de transmitir a voz humana a uma distância de 8, 10 ou 12 km, sem necessidade de fios metálicos.

Após alguns meses de penosos trabalhos, obteve excelentes resultados com um dos aparelhos construídos. O telefone sem fios é reputado a mais importante das descobertas do Padre Landell, e as diversas experiências por ele realizadas na presença do vice-cônsul inglês de S. Paulo, Sr. Percy Charles Parmenter Lupton, e de outras pessoas de elevada posição social, foram tão brilhantes que o Dr. Rodrigues Botet, ao dar notícias desses ensaios, disse não estar longe o momento da sagração do Padre Landell como autor de descobertas maravilhosas".

Incompreensão e descaso do Brasil

O êxito das experiências do Padre Landell não teve a devida acolhida das autoridades brasileiras da época, conforme se verifica em reportagem publicada no jornal La Voz de España, (editado em S. Paulo), no dia 16 de dezembro de 1900, que diz:

quantas e que amargas decepções experimentou Padre Landell ao ver que o governo e a imprensa de seu país, em lugar de o alentarem com aplauso, incentivando-o a prosseguir na carreira triunfal, fez pouco ou nenhum caso de seus notáveis inventos.

Estava em Campinas quando, numa tarde, ao retornar da visita a um doente, encontrou a porta da casa paroquial arrebentada e seu laboratório e instrumentos completamente destruídos.

Visto por uma população ignorante como "herege", "impostor", "feiticeiro perigoso", "louco", "bruxo" e "padre renegado" por seus experimentos envolvendo transmissões de rádio dois dias antes em São Paulo, pagou com sofrimento, isolamento e indiferença sua posição de absoluto vanguardismo científico.

Em junho de 1900, por carta, Landell de Moura pretendeu doar seus inventos ao governo britânico, como registrou em pesquisa para doutorado na USP, em 1999, o historiador da ciência Francisco Assis de Queiroz.

Em 1905, ao retornar ao Brasil após uma estada de três anos nos Estados Unidos, ainda teve energia para enviar uma carta ao presidente da República, Rodrigues Alves. Solicitava dois navios da esquadra de guerra para demonstrar os seus inventos que revolucionariam a comunicação (chegou a dizer que, no futuro, haveria comunicação interplanetária).

O assistente do presidente, no entanto, preferiu interpretá-lo como um "maluco" e o pedido foi negado. Na Itália, quando fez um pedido semelhante, Marconi teve toda a esquadra à disposição.

Landell não conseguiu financiamento privado ou governamental para continuar as suas pesquisas nem para construir equipamentos de rádio em escala industrial.

Patente brasileira e estadunidense

 

 

Memorial Descritivo - folha 01 - da Patente Brasileira de Landell de Moura,Pat. 3279 de 9 de Março de 1901.

 

 

desenho detalhe de aparelho de comunicação da patente brasileira de Landell de Moura, N. 3279 de 9 de março de 1901.

 

 

Memorial Descritivo - última folha - da patente brasileira de Landell de Moura, N. 3279 de 9 de março de 1901.

Landell de Moura, em 9 de março de 1901 obteve para seus inventos, a patente brasileira número 3.279 Poucos meses depois seguiu para os Estados Unidos, e em 4 de outubro de 1901 deu entrada no The Patent Office of Washington, DC pedindo privilégio para as suas invenções, tendo obtido, em 11 de outubro de 1904 a patente 771.917 , para um transmissor de ondas; a 22 de novembro de 1904, a patente 775.337 para um telefone sem fio e a 775.846 para um telégrafo sem fio.

Os seus trabalhos foram noticiados em 12 de outubro de 1902, no jornal americano "The New York Herald", em reportagem sobre as experiências desenvolvidas na época, inclusive por cientistas americanos, alemães, ingleses dentre outros, na transmissão de sons sem uso de aparelhos com fio. Ressalta o jornal:

"Por entre os cientistas, o brasileiro Padre Landell de Moura é muito pouco conhecido. Poucos deles tem dado atenção aos seus títulos para ser o pioneiro nesse ramo de investigações elétricas. Mas antes de Brigton e Ruhmer, o Padre Landell, após anos de experimentação, conseguiu obter uma patente brasileira para sua invenção, que ele chamou de Gouradphone".

O jornal publica uma ampla reportagem sobre Landell de Moura, sua vida e obra, completada por uma fotografia do Padre, intitulada

"Padre Landell de Moura - inventor do telefone sem fio" (denominação de época para a radiotelefonia ou a transmissão da voz humana à distância sem fio condutor).

Nas cartas-patentes, fica claro que o padre Roberto Landell de Moura recomendou o emprego das ondas curtas para facilitar as transmissões quando essas ondas não eram sequer cogitadas por outros cientistas.

Além disso, Landell deixou manuscritos que provam que, em 1904, quando ainda estava nos EUA, projetou a transmissão de imagens (Televisão) e textos (Teletipo) à distância sem fios. Ele batizou a primitiva TV de "The Telephotorama ou A visão à distância". Também há documentação de que foi um dos pioneiros no desenvolvimento do controle remoto pelo rádio. Esses projetos não foram adiante porque, como ele próprio disse em uma entrevista à imprensa brasileira, foi "forçado" a abandonar a carreira científica.

Roberto Landell de Moura faleceu de tuberculose, aos 67 anos, no anonimato científico, no Hospital da Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre. Nos últimos momentos de sua vida, quando alguém indagou sobre os progressos da radiodifusão, ele simplesmente respondeu: "São águas passadas."

 

Replica Funcional do Transmissor de Ondas, construida em 1984, pela equipe do Eng. Antonio Carlos Solano e equipe da Cientec - RS.

Demonstração dos inventos em 1984

Em 7 de setembro de 1984, em Porto Alegre, foi feita uma demonstração pública utilizando-se um rádio montado por uma equipe da Cientec com base na patente norte-americana do padre-cientista (The Wave Transmitter). Na oportunidade, algumas palavras foram pronunciadas pelo então Governador do Estado, Jair Soares, provando que a invenção do Padre Landell realmente funcionou.

Bioeletrografia

Em 1904, ele descobriu o método que hoje é conhecido como Bioeletrografia ou Fotografia Kirlian.

Documentos originais

Os originais das anotações do Padre Roberto Landell de Moura estão no Museu Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.

Patente do Transmissor de Ondas - 11 de Outubro de 1904.
Patente do "Wireless Telegraph" Transmissor e Receptor de Telegrafia Sem Fio - "Wireless Telephone" - Pat. N.775.846 de 22 de Novembro de 1904.
Patente do Telefone Sem fio - "Wireless Telephone" - Pat. N.775.337 de 22 de Novembro de 1904.
Hardware do Telefone Semfio - "Wireless Telephone" - patenteado nos Estados Unidos em 1904.
Esquemático do Transmissor de Ondas - Wave Transmitter.
"Wireless Telegraph" - Transmissor e Receptor de Telegrafia Sem fio - Patenteado em 1904 nos Estados Unidos.

 

 

BIBLIOGRAFIA

  • O incrível Pe. Landell de Moura. História triste de um inventor brasileiro. Ernani Fornari, Editora Globo, 1960
  • Padre Landell de Moura. História de um inventor. Elida de Freitas e Castro Druck, Editora Sulina, 1961
  • O homem que apertou o botão da comunicação. Editora Feplam, 1977
  • Subsídios para saldar uma dívida. Arnaldo Nascimento e Murillo de Sousa Reis, Tipografia Costa Carregal, Portugal, 1982
  • O outro lado das telecomunicações. A saga do Padre Landell. B. Hamilton Almeida, Editora Sulina, 1983
  • Landell de Moura. B. Hamilton Almeida, Editora Tchê/RBS, 1984
  • No ar: a luz que fala. Otto Albuquerque, Editora Feplam, 1985
  • Quem inventou o rádio? César Augusto Azevedo dos Santos, Editora Clio, 2001
  • Brasileiro, gaúcho, um gênio diferente: Landell de Moura. Ivan Dorneles Rodrigues, Corag, 2004
  • Confissões de um padre cientista. Pe. Roberto Landell de Moura. Vânia Maria Abatte, 2004
  • Pater und Wissenschaftler. B. Hamilton Almeida, Debras Verlag, Alemanha, 2004
  • Padre Landell de Moura: um herói sem glória. O brasileiro que inventou o rádio, a TV, o teletipo... Hamilton Almeida, Editora Record, 2006

LIVROS QUE MENCIONAM O PIONEIRISMO DO PADRE LANDELL DE MOURA

  • O Brazil actual. Arthur Dias, Imprensa Nacional, 1904
  • Brazil in 1911. J. C. Oakenfull, Butler & Tanner, Frome and London, Inglaterra, 1912
  • Brazil: a centenary of Independence 1822-1922. J. C. Oakenfull, C.A.Wagner, Alemanha, 1922
  • História do rádio e da televisão no Brasil e no mundo. Mario Ferraz Sampaio, Achiamé, 1984
  • Tu piccola scatola... La radio: fatti, cose, persone. Laura de Luca e Walter Lobina, Edizioni Paoline, Itália, 1993
  • História da técnica e da tecnologia no Brasil. Milton Vargas (organizador), Editora Unesp, 1994
  • Histórias que o rádio não contou. Do galena ao digital, desvendando a radiodifusão no Brasil e no mundo. Reynaldo C. Tavares, Editora Harbra, 1999
  • Rádio. O veículo, a história e a técnica. Luiz Artur Ferraretto, Editora Sagra Luzzatto, 2001
  • Aventuras no Sítio do Picapau Amarelo. O sabugo inventor. Conceição Fenille Molinaro, Editora Globo, 2001
  • Grandes personalidades das comunicações. Ethevaldo Siqueira, Dezembro Editorial, 2001
  • Comunicação – do grito ao satélite. Antonio F. Costella, Editora Mantiqueira, 2002
  • 100 invenções que mudaram a história do mundo. Bill Yenne, Editorial Prestígio, 2003
  • Radio brasileiro, Episódios e Personagens. Doris Fagundes Haussen e Magda Cunha (org.), Edipucrs, 2003
  • 100 cientistas que mudaram a história do mundo. John Hudson Tiner, Editorial Prestígio, 2004
  • Prelúdio para uma história. Ciência e tecnologia no Brasil. Shozo Motoyama (organizador), Edusp, 2004
  • Rádio: a mídia da emoção. Cyro César, Summus Editorial, 2005
  • Avante, soldados: para trás. Deonísio da Silva, A Girafa Editora, 2005
  • São Paulo de todos os tempos, vol. II. Geraldo Nunes, RG Editores, 2005
  • Imprensa brasileira: personagens que fizeram história, vol. 2. José Marques de Melo (organizador), Imprensa Oficial do Est. São Paulo, 2005
  • De Landell ao infinito. O papel do rádio no desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Mário José, Alternativa, 2006
  • O menino que podia voar. Adelita Rozetti Frulane, Editora Canção Nova, 2007
  • A revolução microeletrônica. Pioneirismos brasileiros e utopias tecnotrônicas. Francisco Assis de Queiroz, Annablume, 2007
  • Revolução digital. Ethevaldo Siqueira, Editora Saraiva, 2007.